Já estive entre as
pessoas que perguntam, ao ver alguém muito amoroso com seu animal: porque não
adotar uma criança?
Mas, eu falava assim
quando não sabia o significado de nenhuma das 2 coisas. Agora
que sei, porque vivo essas experiências, sinto-me capaz de falar sobre o
assunto.
Ana Cecília e Agnaldo Barbosa de Araujo |
Adotei Agnaldo há 22
anos e, há apenas 3, adotei Fefê e KK, dois gatinhos lindos e amorosos, pelos
quais me apaixonei perdidamente. Meu
filho Agnaldo tem agora 25 anos e é meu grande amor. Ele é um rapaz generoso, inteligente, alegre
e cheio de vida. Depois de Fefê e KK,
chegaram Tita, Mila e seus filhotes enquanto crescia em mim o desejo de
proteger esses bichinhos.
Afinal, qual seria a
diferença entre adotar uma criança e adotar um bichinho? E quais as semelhanças? As primeiras semelhanças que me vêm a cabeça
são: amor e abnegação, sendo que o primeiro leva à segunda. Ao adotar, a gente renuncia, por exemplo, ao
direito de fechar a porta e viajar sem deixar para trás um ser vivo que depende
de nós.
Falando em ausências,
a pessoa para tomar conta do filho é muito mais cara do
que a babá do animal, o que nos leva a um aspecto prático inquestionável:
adotar uma criança custa muito mais do que adotar um bichinho. Bichinhos não estudam, não fazem atividade
física, não freqüentam o curso de inglês, não compram roupas de marca, não
viajam, não vão a parques de diversão. Bichinhos não escolhem comidas
diferentes, não frequentam restaurantes e, em sua maioria, não vão às festinhas
de aniversário dos amiguinhos. Bichinhos
só consomem ração, água e carinho. No
meu caso, que tenho gatos, nem pago pet shop, porque eles fazem sozinhos a sua
toilete.
Um filhotinho que aguarda um lar |
Pode-se dizer que, em
compensação, ter animais não traz tanto prazer quanto ter filhos. É nesse momento que pisaremos em um terreno
ainda mais delicado, porque não quero defender uma coisa nem outra, o que me
traz aqui é dizer, na minha opinião, porque a pergunta: “por que não adotar uma
criança em vez de criar um animal?” é tão inadequada.
Kairós* Barbosa de Araujo - KK |
Animais são eternas
crianças, enquanto a criança se transformará num adulto e o adulto será
diferente do que se imaginou.
Tenho uma amiga que é
filha única e perdeu a mãe. Minha amiga
já estava perto dos 40 anos quando a mãe morreu, era solteira e não tinha
filhos. Assim, começou a pensar em
adotar uma criança. Pensou, pensou e adotou um lindo filhote de Lhasa
Apso. Ela explica: “estou perto dos 40 e
não tenho mãe nem irmãos. Meus tios e tias são idosos. Com quem ficaria a
criança caso algo me acontecesse? Também adoro viajar e descobri que desejava
apenas uma companhia. Assim, um cachorro me atende”. Débora** está certa. Para adotar crianças, é preciso ter certeza de que o
principal desejo é ter um filho, o resto vem a reboque. Não basta querer companhia, ou ajudar
alguém. Para que seja uma experiência de
felicidade, tem que querer ter um filho e estar muito consciente de todas as
implicações desse fato: boas e más. Isso porque o filho adotivo é igualzinho ao filho parido: uma pessoa com
suas particularidades. Alguém que vai te
desagradar de vez em quando, talvez te decepcionar. Alguém que não vai querer
seguir o projeto que foi construído para ele.
Agnaldo Moita, um DJ Bastante requisitado |
Lembro-me de quando fui
buscar Agnaldo na escola pela primeira vez.
Ele tinha 6/7 anos e o colégio era o mesmo em que eu havia estudado,
três ou quatro prédios no meio de um enorme terreno. Quando o portão do Infantil se abriu, o
pequeno disparou a correr. Eu,
cansadíssima do trabalho, não consegui acompanhá-lo. Chamei, pedi que parasse e ele, nada. Enquanto tentava localizar a cabecinha loura
lá na frente, entre os outros garotos com fardas e alturas iguais, meus olhos
se encheram de lágrimas. No táxi, a
caminho de casa, perguntei-me o motivo do choro e descobri: era apenas
decepção. Eu sonhara com aquelas lindas
cenas que vemos nos filmes em que a criança corre para a mãe, os dois se dão as
mãos e saem conversando sobre o dia. E a
cena do sonho era muito diferente da vida real por um único motivo: meu filho
era um menino cheio de energia, que, após um dia trancado numa sala de aula, só
queria saber de correr.
Durante a vida,
surgirão outros momentos assim, mais e menos intensos. Coisas da vida de quem é mãe e pai.
Adotar uma criança,
enfim, exige assumir uma responsabilidade muito maior, em todos os aspectos, do
que adotar um bichinho, mas ambos trazem grandes recompensas. É bom lembrar, também, que uma coisa não
exclui a outra. Bichinhos são
bichinhos, pessoas são pessoas. E, se você
tiver o coração tão grande que caiba os dois, por que não?
O Psiquiatra austríaco Vitor Frankl, tem como idéia central de sua teoria o sentido de realização, que pode ser dado apenas pelo amor. Segundo Frankl, o amor liberta o homerm de sua prisão externa e interna, indo em direção àquilo que o torna maior que ele mesmo. Ele diz que o homem pode sentir-se realizado apenas quando sai de si e caminha em direção do outro. Estou certa de que, se pudesse lhe perguntar, ele diria que esse "outro" pode ser uma pessoa ou um animal.
O Psiquiatra austríaco Vitor Frankl, tem como idéia central de sua teoria o sentido de realização, que pode ser dado apenas pelo amor. Segundo Frankl, o amor liberta o homerm de sua prisão externa e interna, indo em direção àquilo que o torna maior que ele mesmo. Ele diz que o homem pode sentir-se realizado apenas quando sai de si e caminha em direção do outro. Estou certa de que, se pudesse lhe perguntar, ele diria que esse "outro" pode ser uma pessoa ou um animal.
* Kairós significa "Tempo das oportunidades"
** Nome fictício