Jamais esquecerei esta cena:
mamãe de pé, junto á mesa do café da manhã, com densas lágrimas a escorrer-lhe
do rosto, porque Omar Cardoso havia morrido.
Os mais jovens talvez não se lembrem, mas Omar Cardoso, o astrólogo, visitava os lares brasileiros todas as
manhãs, e começava seu programa dizendo: “Todos os dias, sob todos os pontos de
vista, vou cada vez melhor”. Pena que
não possa reproduzir aqui a entonação firme e musical dessa fala: na palavra vou,
Omar fazia uma “onda sonora” e subia um tom, ênfase que buscava convencer
quantos o ouviam da verdade de sua afirmação.
Jamais esqueci a frase que Omar
dizia antes do meu signo, sempre com aquela voz tonitroante: “e agora, o mais poderoso de todos os signos:
leão!”.
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Lembro-me com detalhes do momento
em que ouvi a notícia da morte de Elis Regina: eu estava sentada diante da TV,
numa poltrona azul de listrinhas e era por volta do meio dia. Algumas cenas do enterro ficaram
gravadas na minha memória: pessoas empoleiradas na copa das árvores, Lene Dale
chorando desvairadamente. Também chorei e, pelo resto da vida, hei de
lamentar essa perda. Anos depois,
ficaria comovida ao ouvir pela primeira vez a voz de Maria Rita cantando com
Mílton Nascimento.
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Omar Cardoso, ao repetir seu texto, trazia alento diário para os ouvintes. Naquela época, em que nem se falava de autoajuda no Brasil, ele tinha essa prática, talvez intuitiva, de estimular as pessoas fazendo-as reafirmar-se positivamente. Elis encantava a todos com sua interpretação dramática e técnica perfeita, gerando empatia em quantos a ouvissem.
Sempre ouvimos narrativas de atores sobre as cenas que protagonizaram fora da telinha, com pessoas que ficam tão convencidas com o que veem nas novelas, que chegam a extremos entre xingar e dar conselhos aos personagens, confundindo-os com os atores.
Esse evento se explica pelo
funcionamento do cérebro humano: ao assistir a um filme ou novela, nosso lado racional
sabe que nada daquilo é real, que há inúmeros técnicos em volta dos atores, mas,
a área dp cérebro responsável pela imaginação acredita naquilo que vê, para
sorte da indústria do entretenimento.
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Além disso, não se pode negar que nossas
emissoras de TV são praticamente
perfeitas no quesito simulação da realidade.
Na novela “Mulheres Apaixonadas”,
de Manuel Carlos, a personagem da atriz
Vanessa Gerbelli morre durante um assalto.
Depois, realidade e ficção se misturam quando os personagens de Tony
Ramos e Bruna Marquezine participam de uma passeata pela paz, acontecida na
vida real.
Assim,
sofremos as mais diversas influências: de locutores de rádio e TV,
atores, cantores, apresentadores. O que
nos cabe fazer diante dessa realidade?
Creio que precisamos filtrar, passar tudo por uma peneira fina e decidir
o que nos serve e o que não.
Pelo menos daquilo que é
consciente. É importante estar sempre
atento, principalmente para o que veem as nossas crianças e adolescentes. E termos cuidado até com nossos sentimentos e
sensações. A empatia é saudável, assim
como o sentimento de solidariedade, desde que colocados sob a perspectiva da
realidade e do equilíbrio.