Era o último dia do ano e eu
havia marcado a manicure logo no primeiro horário. O salão, que ficava na minha rua, mudara-se
recentemente para o primeiro andar de uma galeria. Era a primeira vez que ia a esse endereço. As
escadas estavam mal-iluminadas e eu estava atrasada uns 15 minutos. Por isso, estranhei quando encontrei a porta fechada.
Que fazer? – pensei. Apurei a vista, tentando enxergar algo pelo
vidro, mas vi apenas o meu reflexo. Resolvi então experimentar o trinco. Já faz
mais de 10 anos e não esqueço o rosto do homem, pois foi a primeira coisa que
vi. Ele estava sentado no lavatório e a dona
do salão sentava-se sobre ele.
Ela usava apenas uma blusa de
alcinhas quando pulou direto do colo do homem para a porta.
- Bom dia! - Eu disse, como se
fosse a coisa mais natural do mundo encontrar alguém transando no local de
trabalho, durante o expediente.
- Bom dia... – respondeu a mulher.
- As meninas chegaram? - perguntei.
E ela: só às nove horas.
Agradeci e fui embora. Minhas pernas tremiam terrivelmente. Estava envergonhada como se tivesse feito
algo muito errado. Saí daquela escuridão
para o ensolarado dia de dezembro e a luz do sol me ofuscou a visão. Caminhei devagar até a casa da costureira,
enquanto examinava a situação: concluí que eu não fizera nada errado, uma vez
que tinha hora marcada e estava, inclusive, atrasada.
Agora, relembrando esse episódio,
vejo que meu sentimento foi de vergonha alheia.
Afinal, como diz o velho ditado “onde se ganha o pão, não se come a
carne”, muito menos com as portas abertas.
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