domingo, 11 de setembro de 2011

CHEIROS, AROMAS, PERFUMES

Atravessava rapidamente uma avenida, quando algo me chamou a atenção: um aroma delicioso, caju !  Um vendedor atravessava em sentido contrário empurrando um carrinho cheio das frutas maduras.  Os perfumes nos trazem lembranças, adquirem um significado especial.  Esse lembrou-me uma história distante: fomos, eu e minha irmã,  passar um fim de semana numa casa de praia, cercada de mangueiras e cajueiros.  Ao final do passeio, fomos presenteadas com uma sacola de cajus.  Na volta para casa, esqueci meus cajus no carro da minha irmã  e tive que ir busca-los em sua casa depois do trabalho.  Embora muito cansada, estiquei a volta pra casa porque sonhava com um suco feito da fruta: sem caixinhas, conservantes ou corantes artificiais a interromper o caminho entre mim e a fruta deliciosa.  Porém, no momento de fazer o bendito suco, de tão ansiosa deixei escorregar a peneira e derramei tudo.  Sobraram as castanhas, a perfumar minha cozinha com seu cheiro ácido.   Mais um aprendizado.
O cheiro de caju é amarelo como ele.  Leva-me de volta à infância, em Recife, com seus quintais cheios de fruteiras: mangueiras, cajueiros, e jambeiros, que chamávamos “pé-de-árvore”.  Assim, tínhamos pé de pinha (fruta de conde), pé de mamão, pé de pitomba.  No quintal da minha casa, havia um enorme pé-de-jambo e minha mãe, que não trabalhava fora, fazia um pezinho de meia, vendendo ao balaeiro, grandes balaios cheios do jambo rosado.  Era sempre um acontecimento: o homem chegava com seus grandes cestos e sacudia a árvore carregadinha.  O chão ficava coberto das frutas pequenas em formato de cone.  Os balaios cheios eram trocados por maços de notas que minha mãe transformava em roupinhas especiais para os filhos e demais supérfluos não valorizados por nosso pai.  (foto: ceasacampinas.com.br)

Outro perfume que marcou minha infância foi o dos sabonetes “Alma de Flores”.  Talvez por sua origem humilde, mamãe tinha o hábito de guardar os presentes que ganhava. Em seu quarto,  a gaveta mais alta da cômoda era destinada a  guardar sabonetes, perfumes, toalhas.   E os sabonetes “Almas de Flores” eram o cheiro predominante.

O inesquecível dramaturgo Nelson Rodrigues, divisor de águas do teatro brasileiro,  mantinha profunda ligação com os cheiros e utilizou-os largamente em sua obra.  Para ele, o Recife, onde passou parte de sua infância, tinha cheiro de pitangas, as frutinhas vermelhas em forma de botões de flor, tão típicas daquela região.  No curso de formação do ator, em 1988, montamos a peça Vestido de Noiva, de Nelson, encenada num antigo casarão. Todos os dias, antes do espetáculo, aspergíamos essências diferentes nos diversos ambientes da história: uma igreja, um bordel, um velório.... os expectadores nos diziam que esses cheiros tornavam o espetáculo uma experiência inebriante.

Quem ainda não leu ou assistiu a “O Perfume”, de Patrick Suskind, deve fazê-lo com urgência.   Seu personagem principal é um homem que não exala qualquer cheiro, mas possui um olfato extremamente desenvolvido e dedica sua vida à busca de um perfume idealizado, que o torne atraente.   Uma história envolvente cujo final surpreende.
A música FLOR DA PAISAGEM, DE Robertinho do Recife e Fausto Nilo, traz uma imagem belíssima, na qual o poeta refere-se aos olhos de sua amada:
“... Azul de prata meu litoral/dois brincos de pedra rara/riacho de água clara, roupa com cheiro de mala!”

Outro dia, liguei para um setor da empresa em que trabalho, que fica lá na minha terra natal.  Na despedida, a colega me disse: quando vier a Recife, passa aqui “pra gente te dar um cheiro”.  Para quem ainda não sabe, o “cheiro” como carinho, faz parte da cultura nordestina.  Mamãe costuma despedir-se com um cheiro na maçã do rosto.  Meu amigo Luiz me envia de vez em quando “um cheiro no olho” e minha amiga Fernanda, pernambucana da gema,  manda um cheiro ao final de seus e-mails.  E você, conhece o cheiro como forma de expressar afeto?
bjsnaomeliga.blogspot.com






7 comentários:

  1. Querida,

    também tenho lembranças olfativas, muitas delas, frutais. Minha casa agora cheira a caju, a carinho, a alegria.
    Um cheiro pra você!

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  2. Ana Cecilia
    Talvez por causa do frio, o cheiro é menos presente por aqui...
    bjs
    Nozomi-Yuntaku

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  3. Ana Cecilia,
    Os cheiros de frutas e de flores refrescam a nossa mente... deixam o corpo mais leve, não é?

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  4. Oi Cecília,

    Verdade, verdadeira, o cheiro realmente nos transporta e nos remete às lembranças.

    um cheiro,

    Newmann

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  5. Oi, Newmann, adorei ler seu comentàrio. Deu MAIS saudade de você! Cecília

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  6. Ceci, cheiro de bebê. Paulinha, sua afilhada, ainda não o perdeu. Adoro quando ela dorme ao meu lado e posso sentir esse cheirinho a noite inteira!

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  7. Estou com muita saudade dela. Bjs

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