sexta-feira, 12 de abril de 2013

O MOMENTO DO SIM


Às vezes assisto, no canal GNT, a um Programa sobre casamento que tem o gracioso título de “Chuva de Arroz”.  Em cada episódio, Chuva de Arroz conta a história de dois casais, a partir do modo como se conheceram, destacando os acontecimentos mais importantes, até a cerimônia do casamento, passando pelos detalhes do grande dia.
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Sem querer criticar o programa em si, o que gostaria de comentar aqui é a minha percepção de como se está banalizando a cerimônia do casamento.  Tudo bem que a noiva chegue num barco, e precise enfiar as pernas na água até os joelhos, molhando o buquê e a barra do vestido.  Nada contra um casamento numa casa de fazenda, distante de tudo, obrigando os pobres convidados a se deslocar para um fim de mundo qualquer.  Apenas, creio que é interessante refletir se algumas excentricidades não seriam mais adequadas em um baile de carnaval.  E por falar em carnaval...

 Um dos casais focados no Programa escolheu casar-se sob a lona de um circo, tendo caveirinhas como tema da decoração.  Havia caveirinhas nas alianças de casamento, nas toalhas, no colar da noiva e, ao final, os noivos se exibiram flutuando numa grande argola presa à lona.  Tudo sob o signo da diferença... 
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 Ele e Ela resolveram casar-se à moda caipira.  Esqueçam aquele noivo elegante, vestindo um terno bem cortado, com uma flor na lapela.  Esse vem com um enorme chapéu de palha com aba desfiada, cavanhaque e bigode fake, gravata torta, camisa xadrez e uma enorme margarida amarela no peito, acompanhada de outras menores, espalhadas pelo blazer marrom. A seu lado, a noiva, vestida de forma quase tradicional, parece antecipar um futuro em que apenas a mulher se preocupará em permanecer bonita e cuidadosamente arrumada. Nessa cerimônia, também merece destaque, o “altar”, em forma de barraca de quermesse junina, devidamente multicor.

 
De uma fantasia a outra, o grande destaque é o casal Elvis Presley e Marilyn Monroe,  numa improvável união que, além do mais, foi celebrada por um Papa.  Não se assustem!  Os falecidos astros podem descansar em paz.  Os noivos estavam “apenas” fantasiados e o Papa em questão é um amigo do casal. Além de fantasiados, o casal interpretou sua entrada no salão: enquanto Elvis, o noivo, com os inevitáveis topete e costeletas, dublava uma canção de Elvis, o ídolo; a noiva Marilyn, usando o vestido branco semelhante ao da clássica foto em que Marilyn, a estrela, mostra as pernas, entrava sozinha na igreja, fazendo trejeitos, numa caricatura de sensualidade. Em lugar do buquê de flores, segurava um objeto feito de broches, brincos, pulseiras e presilhas de cabelo.

Babados e roupas:os piores vestidos.blogspot
Mas, afinal, o que aquelas pessoas estavam fazendo ali? Elas se conheceram, construíram um relacionamento, passaram por alguns percalços.  Finalmente, perceberam que chegara o momento de selar sua união, que elas desejam que seja para sempre, e que esse momento seja um marco na vida, assistida pelos familiares e amigos de ambos.  Penso que, neste momento, são bem-vindos a alegria, as cores, os doces e o belo vestido.  É natural que a noiva deseje estar com uma aparência maravilhosa, maquiagem perfeita, sapatos elegantes e pele translúcida.  É previsível também que todos esses detalhes combinem com a personalidade do casal e seja o coroamento da realização do seu sonho.  Mas, não estaremos indo longe demais na busca do que é exótico, diferente, fora do comum? Seria mesmo esse o momento para dar vazão à necessidade de fantasia?

 
Penso que aquilo que é sério está perdendo o sentido e quero lembrar que sério não significa triste.  Segundo o dicionário, sério significa digno, honesto, imaculado, honrado, íntegro. Após a cerimônia, vem a festa, que é o momento de confraternizar, dançar, brincar. A cerimônia é o marco consagrador da união e por isso exige dignidade, integridade, pureza.   A cerimônia deve ser imaculada.  Não importa o tradicionalismo das vestes ou a suntuosidade do salão.  O que importa são as intenções. A frase “pode beijar a noiva” é a liberação para festejar, a transição entre a integridade da cerimônia e o à vontade da festa. 
vergastas.blogspot.com
 
Então, vem o momento dos cumprimentos, de jogar o buquê para as solteiras, de brindar com champanhe e cortar o bolo. À medida que o tempo passa, o cerimonioso vai dando lugar ao festivo e chega o momento de dar vazão à alegria.  De preferência, sem desrespeitar a religião dos outros, escolhendo para celebrante, um amigo fantasiado de si mesmo.