domingo, 31 de julho de 2011

DIA DOS PAIS


O Dia dos Pais se aproxima e, com ele, começa o corre-corre pelas lojas em busca de presentes. A TV, por sua vez, enche nossas telas com a propaganda que busca nos convencer de que os mais variados objetos vão trazer felicidade e realização para essa pessoa tão significativa em nossa vida. Embora em menor escala que o Dia das Mães, queixa muitas vezes repetida pelos homens, o Dia dos Pais, como outros dias comemorativos, também atrai muitos compradores às lojas, ansiosos por agradar pais, maridos e sogros, retribuindo com um agrado, o muito de atenção e carinho recebidos, muita vezes durante toda uma vida.
Meu pai partiu desse mundo há muito tempo, e a única coisa que posso fazer por ele, no segundo domingo de agosto, é uma oração; mas, se ele estivesse vivo, eu o presentearia, no Dia dos Pais, com algo que, no mundo de hoje, falta para todo mundo. Eu lhe daria um pouco de...TEMPO.

Mas, como presentear com TEMPO, se já o tenho em tão pouca quantidade?  Aí é que está o encanto desse desafio: doar algo que não se compra com dinheiro e de quebra, criar mais uma oportunidade de aprender a administrá-lo. 

Da mesma forma que qualquer presente, o TEMPO precisa ser personalizado de acordo com as necessidades e gostos do presenteado, e você vai despender tempo para pensar na pessoa, o que já é, em si, um presente.

Para ajuda-lo, pensei em algumas sugestões que servem para qualquer dia: dos pais, das mães, das crianças, sogros, mulheres, ou qualquer dia em que você queira, simplesmente, ser gentil:

1.    Arrume os armários dele
2.    Faça um belo café da manhã
3.    Substitua-o por alguns dias, numa tarefa habitual (lave os pratos por uma semana, faça o almoço, leve o cachorro para passear).
4.    Vá ao cinema com ele e deixe que escolha o filme
5.    Organize seus documentos e/ou fotos
6.    Encontre uma coisa há muito perdida
7.    Resolva uma pendência
8.    Faça compras com muita paciência
9.    Faça pequenas costuras em suas roupas
10. Veja TV junto com ele
11. Simplesmente ouça o que ele tem a dizer

Enfim, é essa a proposta do “Amigadaspalavras” para o Dia dos Pais e todos os outros dias, comemorativos ou não: em lugar de gastar dinheiro e tempo em lojas e estacionamentos superlotados, presenteie com TEMPO as pessoas mais amadas e o tempo te agradecerá.     

Oração ao tempo  
                                                                  
(Caetano Veloso)  
                                                       
És um senhor tão bonito                                       
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo                                                                                                            blogfaby.blogspot.com
Tempo tempo tempo tempo...


Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...


O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...


Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...
      

terça-feira, 5 de julho de 2011

Olha pro céu, meu amor


“Olha pro céu, meu amor

Vê como ele está lindo,
Olha pr’aquele balão multicor
Que lá no céu vai sumindo”

A época das festas juninas, para mim, é marcada por muita saudade.  Em Brasília, cidade onde moro, a noite de São João parece uma noite como outra qualquer, mas há fogueiras acesas no meu coração. Nessa noite, se fazem presentes lembranças da infância: a canjica fabricada na cozinha da nossa casa; um trabalhão feito com muitas peneiras, coadores e urupemas; o milho debulhado à mão, o ralador de coco, daqueles de sentar em cima, jogando os flocos branquinhos na trama escura do urupema, apoiado num banquinho tosco.  Minha mãe com o avental sujo de milho e coco, dizendo pela milésima vez que, no ano que vem, não faria nada! Tudo recompensado pelo creme amarelo, lindo, cozinhando no grande caldeirão até levantar as bolhas da fervura.  Depois, as grandes travessas cheias da canjica amarelinha, salpicada com a canela marrom.  Pamonhas amarradas na palha verde.  Bolo de fubá, pé-de-moleque com castanhas, amendoim e café...
O que eu mais gostava mesmo era do dia 24 de manhã.  Acordar e comer a canjica em ponto de cortar de faca, tirada da geladeira, com café quentinho.  Essa lembrança me traz lágrimas aos olhos, de saudade do afeto represado naquele doce.

A fogueira está queimando
Em homenagem a São João
O forró já começou
Vamos, gente, rasta-pé nesse salão.

Este ano, passei um pedaço da noite do dia 23 com uma amiga num shopping.  Ela, também pernambucana, compartilhava comigo a saudade.  Que alegria ao vermos, na ida pra minha casa, uma única fogueirinha acesa na rua.  Lá em casa, em Recife, a gente sempre dava um jeito de ter lenha para a fogueira.  Ali, queimávamos as nossas desilusões e assávamos milho verde e carne seca.  Quando as últimas achas estavam queimando, pulávamos a fogueira e nos tornávamos comadres.  Que alegria nessas brincadeiras inocentes!

São João disse
São Pedro aceitou
Vamos ser compadres
 que Jesus mandou

Nesse São João, após o passeio no shopping, terminei minha noite chorando.  A saudade misturou-se à dor, quando assisti ao Globo Repórter, cujo tema eram as festas de São João.  Quem viu deve lembrar-se que se tratou de uma família nordestina, que mora em São Paulo e, após muitos anos sem ver os parentes, voltava esse ano para visitá-los. Que tristeza ao ver aquele homem, um encanador, sem os dentes da frente, saindo de uma casa miserável, na periferia de São Paulo, com a mulher e os filhos, para uma visita à terra natal.
Lá, no interior da Paraíba, desembarcar de um avião, passagens compradas na promoção após muita economia, que, com certeza, significou sacrifícios na alimentação.  Viajaram de Van, por estrada de terra com muitos buracos, para encontrar a família da esposa.  Ali, uma senhora idosa, com muitos filhos e netos, abraçou a filha com a timidez de mostrar seus sentimentos em rede nacional. Casinha de taipa, fogão a carvão, terra seca, vegetação esquálida, mais pobreza, rostos tristes e marcados.

Sentada no meu sofá, diante da TV, vejo a imagem daquela mulher que há anos não via a mãe, esconder o rosto em seu pescoço chorando, e a câmera mostrando impiedosamente a vida de verdade, no rosto desenhado por rugas daquela mulher forte e digna.  Pensei que, apesar de tantas mudanças no país, de tantas geladeiras, computadores e fogões recém-comprados, minha gente nordestina continua a ser banguela e pobre, desnutrida e maltratada, desrespeitada e faminta. 

Juntou gente.  Afinal, um acontecimento a chegada daqueles familiares vindos de São Paulo, que eles só conhecem pela TV!
Entremeada à história deles, vieram as imagens dos animados forrós dançados em Campina Grande e Caruaru; outras danças lá do Piauí, os bois do Maranhão.  Tudo muito bonito mas o que me marcou mesmo foi aquele homem sem dentes, aquela família cujo único refresco na viagem  foram as duas horas passadas no avião quando uma aeromoça bem vestida e maquiada lhe ofereceu, solicita: o que deseja beber, senhor? 

Para mim, ir de pau-de-arara e voltar de avião é muito menos do que eles merecem.  Espero que a globo, pelo menos, lhe pague os implantes para uma dentadura que lhe restaure a dignidade e lhe permita sorrir, sem qualquer constrangimento, em sua próxima viagem de avião.