domingo, 30 de dezembro de 2012

FELIZ ANO NOVO






Já preparei tudo para a noite de ano novo:  botei a camisola e o robe branquinhos pra lavar, comprei sal grosso para um banho de limpeza.  O perfume suave, já tenho.  Amanhã, vou comprar uma torta salgada para o jantar.  Depois do meio expediente de trabalho, almoço e cinema.  Vou assistir a “A História de Pi”.
Depois, pego a torta e volto pra casa.  Tudo sozinha, mas não solitária.  Vou fazer exatamente o que eu quero no final de ano, pela segunda vez. Porque, que maravilha, não sinto mais medo de ficar sozinha enquanto todos estão festejando! Vou fazer uma limpeza espiritual em mim e na casa, depois ponho minha roupa branca e vejo TV ou, se estiver com sono, vou dormir.  Isto  para mim é 
F E L I C I D A D E.

FELIZ ANO NOVO A TODOS!!!

domingo, 9 de dezembro de 2012

COMIDA E AFETO


Minha infância foi muito diferente da infância de hoje: não havia danoninho, vídeo game, barra de chocolate gigante, sobremesa lactea com bolinhas coloridas, ônibus escolar, TV a cabo, celulares que até fazem ligações...
 
A gente só via comida de festa nas festas de aniversário dos amiguinhos ou no natal, únicas ocasiões em que também tomávamos refrigerantes.  O dia a dia era feito de feijão com arroz, bife, purê de batatas, suco de frutas frescas, doce de banana e goiaba feito em casa.  À noite, sopa de feijão com macarrão, aproveitando as sobras do feijão do almoço, batata doce ou macaxeira com charque*, inhame com galinha guisada**, pão francês assado com manteiga, queijo coalho...
 
Ao lembrar, minha boca se enche de água e o coração, de afeto:  Minha mãe servindo a sopa e eu reclamando das folhinhas de coentro.  A barrinha de chocolate laka branco que meu pai trazia junto com a revista Intervalo e tinha o dom de transformar minha vida num paraíso!
 

Que saudade!  Era tudo tão mais simples!  Papai criou uma espécie de promoção: o rei das frutas.  Cada filho tinha sua vez de sair da banana e laranja de todo dia e ganhar frutas de todos os tipos: pinhas, ameixas, sapotis, peras e maçãs.  Uma festa!  Claro que não era apenas o rei ou rainha das frutas que tinha o direito de degustá-las.  Dentro do espírito fraterno em que éramos educados, as frutas eram divididas entre os irmãos, mas o rei da fruta permanecia com aquela sensação gostosa, consciente de sua momentânea realeza.

Eu aguardava ansiosamente as festas de São João, pois adorava a comida de milho, principalmente a canjica amarelinha, mexida no grande caldeirão.  A manhã do dia 24 de junho era a mais gostosa do ano: canjica gelada, bolo pé-de-moleque e café quentinho.

Em agosto, começavam os aniversários.  Eu morria de vergonha de ser o centro das atenções, mas adorava o bolo confeitado, com recheio de doce de leite e cobertura com gosto de limão.  Não havia gordura hidrogenada e tudo era mais saudável: açúcar fininho, claras batidas em neve, suco de limão e anilina para dar cor.  Os enfeites eram jujubas ou confetes coloridos.  O bolo era feito em casa, com doses de paciência e amor.  Junto, vinham os brigadeiros enfeitados com confeitos coloridos, canudinhos, pastéis de festa e guaraná.
No dia da festa, o piso da nossa casa era forrado com folhas de goiabeira para perfumar.  Toalha branca bordada, os primos chegando em suas roupas domingueiras, os vizinhos e coleguinhas de escola.  Abrir os presentes, comer bolo, cantar parabéns...

 

No natal, a grande estrela eram as empadas com recheio de camarão, desenformadas quentinhas, grandes, tenras.  A massa era feita com banha de porco, o camarão era de verdade, mas jamais alguém ficou doente por esse motivo. Não entediamos de nutrição, mas nossa alimentação era balanceada.  Sabíamos que carne, ovo e leite eram fortes, e que as frutas e verduras faziam bem.  Também não se freqüentava academias, mas os adultos gastavam as energias nas tarefas domésticas e as crianças, nas brincadeiras de rua.   
 

Mas o tempo, esse ingrato, passou inexoravelmente, deixando no meu coração um suspiro de saudade.         


 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 2 de dezembro de 2012

"VIAJAR É PERDER PAÍSES" E... GANHAR PESSOAS!


 
Nas férias, fui conhecer Montevideo.
Os 3 primeiros dias, passei com minha amiga Eveline, que se revelou uma excelente companheira de viagem, mas teve que partir antes, privando-me de sua companhia.  Fiquei sozinha e, ao contrário do que pensava, foi ótimo.  Sempre tive  receio de viajar sozinha, pois gosto de compartilhar.  Essa viagem, entretanto, serviu para que eu percebesse que, estando sozinha, posso conhecer mais pessoas e ter ricas experiências.


Montevideo é uma cidade iluminada pelo rio da prata, que a margeia mansamente.  Um rio ancho*, como dizem por lá. Na verdade, o mais ancho do mundo.  A água embeleza e dá leveza a uma cidade.  Na manhã seguinte à partida da minha amiga, estava passeando na rambla**, aproveitando o sol, quando conheci uma mulher gaúcha, que mora em Nova York.  Foi interessante a forma como nos entrosamos rapidamente.  Passamos o dia juntas.  Ela é artista plástica e adora portas.  Levou-me a prestar atenção nas belas portas de Montevideo, dos séculos 18, 19 e 20, que permanecem fechadas em sua maioria.  Portas altas e imponentes, trabalhadas com detalhes ou simples, por trás das quais devem existir muitos mistérios.

Andréia me levou a conhecer sua amiga Jussara, que é auditora de Bancos e mora em Nova York.  Almoçamos juntas no Mercado do Porto, um ponto turístico de Montevideo, próximo ao cais do porto, cheio de restaurantes e lojas de souvenir.  O almoço foi muito   divertido.  Jussara é uma pessoa radiante, simples e doce. Gostei muito de conhecer as duas brasileiras de Nova York.

Ainda na 4ª-feira, conheci dois homens no café da manhã.  Eles viajavam com um grupo de turistas e  acabei indo com eles assistir a um show de dança e música no El Milongon, casa de shows uruguaia.  Gostei muito!  Os artistas anônimos me encantam com sua arte e me comovem com a dedicação sem grandes recompensas materiais.  Por isso, acho feliz o dito “Artista é aquele que permanece”. O ritmo uruguaio, o candombe, se parece com o samba e o maracatu.  Também lembra a macumba e a dança dos orixás. Havia também um casal de cantores muito bons e os dançarinos de danças gauchescas e tango, maravilhosos.
 
  No passeio a Colônia do sacramento, encontrei uma colega do trabalho.  Quando perguntei se estava gostando da viagem, respondeu que Montevideo não tem muito que ver.  Lembrei-me de Andréia, que tem olhos de artista e vê a beleza das portas.  Uma cidade tem muito a oferecer se não estamos presos a um turismo plastificado.  
 No mesmo passeio, conheci Suzana, que mora em San Juan, na Argentina, perto da fronteira com o Chile. Suzana tem 3 filhos e 2 netos.  Está casada há 39 anos e é professora de história.  Suzana é uma pessoa encantadora, que me deixou um lindo bilhete e uma impressão caliente.
 “Viajar é perder países”, disse Fernando Pessoa.  Mas eu digo que viajar é ganhar pessoas e lugares, traçar em nossa mente e em nosso coração, um mapa de sensações e impressões que são diferentes para cada um de nós.


 
* largo
** calçadão