segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Remédio para depressão


Meu programa preferido, nas tardes de domingo, é deitar no sofá e assistir às séries na TV a cabo.  Uma das que mais gosto é “Desperate housewives” cujo enredo gira em torno da vida de quatro mulheres: Linette, Gabrielle, Brie e Susan, que residem em Wisteria Lane, uma graciosa rua sem saída de uma cidade norte-americana qualquer.
 O tema da série é a nossa “humanidade” ou seja, tudo que pode haver de mesquinho, desprezível e até criminoso, sob a aparência extremamente agradável das casas amplas com jardins floridos, habitadas por pessoas elegantes e bonitas,  que formam Wisteria Lane.  Mas essa humanidade também é feita de sentimentos nobres e boas intenções, que guiam ações nem sempre ortodoxas, mas que têm, às vezes, resultados positivos.
Foi o que aconteceu alguns episódios atrás, com Linette Scavo e seu marido Tom. A característica predominante no casal Scavo é sua fertilidade, reforçada pela forte atração física que Tom sente por sua mulher, apesar dos muitos anos de casamento e da quantidade expressiva de filhos que os dois já puseram no mundo.  O casal já tinha 4 filhos, dois dos quais gêmeos hiperativos, quando Linette, que já tem quase 50 anos, deu à luz uma menina.  Por essas e outras, Tom começou a apresentar sintomas de depressão. 

Após diversas tentativas de animá-lo, Linette o aconselha a procurar um médico, recomendado por não receitar remédios fortes.  Tom volta da consulta, animadíssimo, exibindo um pequeno frasco contendo maconha para uso medicinal.  Linette, preocupada, argumenta com o marido que não quer que os filhos o vejam “chapado” e preferiria que ele não usasse o remédio. Mas Tom insiste em seu desejo e sai, deixando o remédio na cozinha ao alcance de sua mulher.  
 Impulsionada por uma súbita inspiração, Linette despeja a maconha na pia, e enche o vidro com algo semelhante, que não é dado ao expectador, naquele momento, identificar. Dias depois, feliz pelo efeito do remédio, Tom o oferece ao amigo e vizinho Carlos que, sem querer, acaba por descobrir que Tom vem consumindo, apenas, simples e inofensivo orégano. 
 Indignado, Tom vai tomar satisfações com sua mulher que, simplesmente, começa a rir.  Após esse início meio desastroso, os dois acabam por se entender e, a certa altura, Linette diz ao marido: “desculpe-me por enganá-lo, mas o que estou achando engraçado é que você conseguiu se curar com simples tempero de pizza”.
  
 Mais tarde, o episódio me voltou à lembrança e me pus a pensar em quantas vezes nós agimos como Tom Scavo: buscamos fora a cura para nossos males, em remédios que causam muitas vezes, efeitos colaterais significativos, e esquecemo-nos de procurá-la dentro de nós, deixamos de lembrar que ela está ao nosso alcance, bastando apenas buscar o contato conosco mesmos e com aqueles que nos amam, para encontrá-la.

O personagem que serviu de estímulo a esta reflexão tem uma filha pequena, cujo nascimento causou muitos contratempos à família, por motivos que não vale destacar aqui.  Mas, ao final do diálogo esclarecedor com a esposa, ele diz: “vou para perto do berço transformar, eu mesmo, o cachimbo em poste de luz.”

Essa fala me trouxe à lembrança o tempo de transição entre a formatura e o primeiro emprego, quando eu e meus amigos íamos às festas sem dinheiro para beber. Passávamos a noite inteira dançando, hidratados só com água mineral e uma(1), garrafa de refrigerante. E como nos divertíamos!  Transformávamos, com nossa vitalidade e alegria de viver, “o cachimbo em poste de luz”.  Pra nós, bastava a música alegre, o salão amplo, o piso lisinho e o compartilhamento, para termos uma noite divertida. Não havia necessidade de aditivos.
Às vezes me pergunto: em que ponto do caminho perdemos essa capacidade de felicidade natural e fluida, que não precisava ser regada com nenhuma bebida ou droga da moda, bastando, apenas, a inebriante sensação de estarmos vivos?

Um comentário:

  1. Ah Cecília...seu texto me faz lembrar que precisamos de muito pouco para sermos felizes. Mas, não sabemos. Porque é difícil saber o que nos faz verdadeiramente felizes. Então, vivemos como "Alice no país das maravilhas": correndo tanto sem saber exatamente para onde estamos indo.
    Beijos da amiga,
    Rose

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