terça-feira, 15 de outubro de 2013

 N G E L A




Estou no Shopping e resolvo tomar um café.  Peço licença para me  sentar à mesa com uma senhora  idosa e percebo que ela está chorando.  Hesito entre falar com ela ou simplesmente ignorar, e decido pela primeira opção:
Eu -  o que aconteceu? Posso ajudar?
Ela (levando a mão ao coração) – meu coração dói muito.  Tenho problemas.
Eu – posso ligar para alguém?
Ela – tenho uma amiga mui buena que mora aqui perto.
Além de falar muito baixo, ela fala com sotaque espanhol, por isso está difícil entender.
Espero pacientemente enquanto ela remexe na bolsa, procurando o telefone da amiga.
Ela – você pode ligar para minha filha. Mas liga do seu celular, não do meu 
Eu – a senhora tem o número? 
Ela – você diz que está aqui comigo, que estou chorando, chorando, chorando muito...
Faço a ligação e cai na caixa postal.  Deixo um recado, conforme as instruções recebidas e desligo.
Resolvo conversar um pouco para distraí-la.  Ela para de chorar e eu lhe pergunto de que país ela veio. - Sou espanhola e me chamo Ângela*. Pergunto por que veio para o Brasil e ela responde que é professora, jornalista e cientista política.    A conversa é claudicante, de vez em quando Ângela volta a chorar.
Observo que deve ter uns setenta e poucos anos; cabelos semilongos,  branquinhos, magra  e elegante.  Veste um terninho vermelho com uma blusa branca de seda e uma echarpe branca  enfeitando a gola.
A moça do café se aproxima e eu pergunto:
- Você  a conhece?    - Ela vem  todos os dias  - responde a moça.  A filha não dá atenção a ela, então ela vem aqui.
 Levantei-me e me despedi de Ângela.  Talvez eu volte a vê-la, porque sempre que vou àquele shopping, tomo também o café.  Não sei se o mal de Ângela é mesmo falta  de atenção.  Afinal, quem sou eu para  julgar sua filha, que sequer conheço?  Mas espero, de todo modo, que Ângela e sua filha Ana**possam se reencontrar, e que Ângela encontre uma forma  menos dolorosa de  mitigar  sua solidão.




*NOME FICTÍCIO
**NOME FICTÍCIO

   

Um comentário:

  1. Obrigada por compartilhar, Cecil querida. todos nós temos esses momentos, vez por outra não é.. Que possamos nos fazer companhia, e sermos boa companhia para nós mesmos também!!
    grande beijo e otimas ferias, Lu

    ResponderExcluir