quarta-feira, 4 de maio de 2011

Não enche, mãe!


 
Não quero ter filhos, sou egoísta demais – me disse uma jovem amiga, enquanto conversávamos sobre possibilidades de casamento e maternidade. Em outra época, eu teria ficado chocada com aquela afirmação, colocando-a de imediato na lista de “monstrinhos que não gostam de crianças”.  Hoje, penso que ela tem concepções realistas, sobre si mesma e sobre ser mãe.

O “Dia das mães” se aproxima e percebo, mais uma vez, o quanto detesto essas mensagens que nos endeusam , transformando-nos em seres cujo beijo mais parece aquelas garrafadas milagrosas, vendidas na rua em vidros coloridos, que curam de lumbago a conjuntivite, passando por unha encravada e complicações estomacais.

Somos humanas.  Eu, pelo menos, mãe de um jovem de 24 anos, me considero humana e cheia de falhas como qualquer outra pessoa, inclusive ao exercer o papel de mãe. Procurando fazer o melhor, muitas vezes fui dura demais, permissiva demais, cuidadosa demais, excessivamente pegajosa, injusta... Muitas vezes também fui equilibrada e apoiadora; noutras tantas sou amorosa e assertiva.  

Penso que nosso papel ficou mais difícil com o passar dos anos.  As regras tiveram seus contornos diluídos e agora temos que viver numa corda bamba em que não há errado nem certo, tudo é relativo.  Para atrapalhar ainda mais, tem a tecnologia que, se por um lado nos ajuda a localizar os filhos, também os expõe a riscos imensuráveis e, se não tivermos cuidado, nos afastará irremediavelmente.

Conheço uma mulher que é mãe de um casal, na casa dos 20 anos.  Ela acusa o marido de se ocupar demais do trabalho e ser ausente na família; queixa-se de que os filhos não conversam com ela e eu percebo que eles também não conversam entre si.     
Cada um se isola em SEU quarto com SEU computador e SUA TV.  Na hora das refeições, cada um faz seu prato e come na companhia dos 1.110 amigos do facebook. Infelizmente.

Mas, voltando à amiga do início, maternidade e excesso de egoísmo não combinam mesmo.  Ser mãe é, sem dúvida, uma troca desigual.  Renunciamos a MUITA COISA: liberdade para dormir e acordar, para viajar até onde queremos, para comer o que queremos, para morar onde queremos, para... e estaremos atrelados a alguém (ou alguéns) pelo resto da vida, para o bem e para o mal.

E o que se ganha, então?  O que faz tantas mulheres sonharem com fraldas, mamadeiras e roupinhas perfumadas? O que faz outras tantas tentarem métodos caros e complicados, que lhes permitam parir? E outras que, na impossibilidade de gerar um filho que herde seus belos olhos, decide adotar um pequeno ser que nasceu de outra mulher, cuidar e amar como se dela fosse?
Não sei. Penso que cada experiência é única, mas percebo que há algo em comum, pelo menos à maioria dos casos: o AMOR e seus desdobramentos.  É o amor que faz valer a pena e dá a certeza de que não queremos desistir.

Aquele serzinho fofo e cheiroso crescerá e em algum momento dirá: “não enche, mãe”, mas vamos amá-lo, apesar da raiva e da revolta por essa “ingratidão”.  Ela pode odiar todos os enfeites de cabelo, trocar de religião e se recusar a usar vestido de noiva; ele pode não querer fazer concurso público, tornar-se músico e usar piercing, mas nosso coração sempre se encherá de ternura ao vê-los, apesar da sensação de impotência e inutilidade.

Outro dia, a mãe de uma colega, senhora de 82 anos, disse: “quando minha filha diz: ‘mãe, estou tão feliz’, as portas do céu se abrem para mim”.  Essa é, por certo, a síntese do amor materno: encontrar na felicidade do outro a própria beatitude. FELIZ DIA DAS MÃES!
 



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