terça-feira, 24 de maio de 2011

Ser humano

"Me abraça e me faz calor
Segredos de liquidificador
Um ser humano é o meu amor,
De músculos , de carne e osso,
pele e cor."

Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes



Uma vez vi o ator Antônio Fagundes, falando sobre a televisão.  Ele dizia que a TV é mágica e há que ter muito respeito, pois se entra na casa das pessoas.  Essa fala me fez lembrar de uma história da minha adolescência, que acabou virando piada de família: uma amiga da minha irmã contratara como empregada doméstica, uma jovem simples, vinda do interior.  Ceça, vamos chamá-la assim, estava em certa noite, assistindo ao jornal nacional, sentada numa cadeira de armar.  Por conta de algum movimento brusco, a cadeira desarmou e Ceça caiu para trás. Não houve dano físico, mas o abalo emocional sofrido pela moça perdurou por várias semanas.  Semanas sem o prazer de ver Cid Moreira, de quem era ardorosa fã, pelo simples motivo de acreditar piamente que ele lhe vira a calcinha. 

Mesmo não chegando ao ponto da inocente Ceça, a  verdade é que as pessoas que vemos naquela realidade paralela acabam fazendo parte da nossa vida de uma forma peculiar.  A elas dedicamos sentimentos diversos, por motivos os mais variados e difíceis de explicar.   

Quando soube que o ator Eduardo Moscovis viria ao meu local de trabalho, fiquei eufórica.  Afinal, além de admirar suas atuações, tenho por ele uma admiração estética indiscutível.  No dia marcado, coloquei a máquina fotográfica na bolsa, na esperança de uma foto.
Geralmente sou discreta com artistas.  Além de ser um tanto orgulhosa, gosto de respeitar-lhes o direito sagrado de ir e vir, portanto, não costumo incomodar. Mas, como o moço em questão viria a meu território, talvez me permitisse “tietar”.
E assim foi: pouco depois que ele passou no corredor em direção ao auditório, entrei e pedi-lhe graciosamente que pousasse para uma foto, fazendo uma alusão bem-humorada ao comercial em que ele diz  “não posso ligar porque sou casado”.  Ele sorriu, fizemos a foto, agradeci e me afastei.  Esse primeiro contato me causou uma boa impressão mas o que veio a seguir simplesmente me encantou. 

Du Moscovis veio para um evento da Semana de Qualidade de Vida da empresa em que trabalho, cujo tema é o estímulo ao hábito de ler.  Seu papel nesse evento seria fazer a leitura de crônicas do escritor Zuenir Ventura, mas ele foi além.  Demonstrou boa educação, gentileza, empatia com o público e com o escritor, inteligência e... humanidade.  

 O que vimos no palco foi uma pessoa como nós, vestido de forma simples, com as crônicas impressas na mão, uma vez que foram publicadas em jornais; sorridente, gentil e esbanjando afeto por todos os poros. Um trabalhador da arte, fazendo a leitura dramatizada dos textos com a naturalidade dos gestos  de suas mãos grandes e expressivas; sua voz agradável e cadenciada levando-nos aos cenários retratados pelo autor.    

 Após o evento, pousou para fotos, conversou um pouco com os presentes, inclusive comigo.  Falamos sobre um amigo em comum: o dramaturgo e diretor teatral Newton Moreno, com quem o ator já fez um trabalho.  Fiquei feliz.

Muito grata, Eduardo Moscovis, pela tarde inesquecível.  A lição que sua atitude nos ensina é a da humildade, do respeito e firmeza daqueles que sabem o que querem e têm consciência do que são.

Que esse texto seja um abraço!  



Um comentário:

  1. De fato, o Eduardo Moscovis sempre me passou a impressão de ser inteligente e atencioso.
    É um prazer recebe-lo em minha casa via televisão! Parece brincadeira, mas é muito sério. Quantas vezes, ao assistir um telejornal, abrimos as portas para ladrões e assassinos?

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